Um lugar...
Empilhados sobre os degraus de uma escada cujo topo dá numa porta que parece há muito não ter sido aberta, à vista dos transeuntes ora apressados, ora curiosos que, diariamente circulam pelo lugar movimentado, eles estão. Ficam, dispostos organizadamente, separados por tamanho e forma, como se estivessem alheios ao ir e vir frenético de pneus e pernas que não cessa até o cair da noite, permanecendo convidativos e acabando por atrair dois ou mais olhares atentos que, algumas vezes, cedem ao impulso inicial gerado pela cena insólita e aproximam-se como a verificar, de perto, do que, de fato, se tratam. Um cheiro de dendê, que lembra a vizinhança com a baiana de acarajé e o barulho dos automóveis ao longo da avenida margeada por edifícios, compõem, junto com lojas, bancos e estabelecimentos comerciais diversos, o local onde fica, a céu aberto, o sebo do Seu Milton, no bairro do comércio em Salvador.
O homem
Sentado nos degraus, ele não se descuida, em momento algum, dos folhosos que comercializa. Milton Silva, aos 47 anos, diz ter descoberto prazer na leitura quando, há dois anos atrás encontrou, por obra do acaso, esquecido num ponto de ônibus, um exemplar semidestruído do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. O que, de início, era passatempo para o curto percurso de ônibus entre a Liberdade e o comércio, tornou-se um hábito cada vez mais praticado. Vindo de uma família pobre, Silva nunca teve um estímulo pela leitura e, por pouco, não concluiria o segundo grau. “Só depois de velho que eu reconheci que poderia conhecer muitas coisas através dos livros. Eu antes detestava ler”, explica enquanto ajeita os óculos que insistem em escorregar pelo nariz largo.
Sentado nos degraus, ele não se descuida, em momento algum, dos folhosos que comercializa. Milton Silva, aos 47 anos, diz ter descoberto prazer na leitura quando, há dois anos atrás encontrou, por obra do acaso, esquecido num ponto de ônibus, um exemplar semidestruído do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. O que, de início, era passatempo para o curto percurso de ônibus entre a Liberdade e o comércio, tornou-se um hábito cada vez mais praticado. Vindo de uma família pobre, Silva nunca teve um estímulo pela leitura e, por pouco, não concluiria o segundo grau. “Só depois de velho que eu reconheci que poderia conhecer muitas coisas através dos livros. Eu antes detestava ler”, explica enquanto ajeita os óculos que insistem em escorregar pelo nariz largo.
A idéia
O repentino interesse pela leitura trouxe a Seu Milton outras possibilidades. Morador da liberdade, fez com que toda a vizinhança ficasse sabendo do seu novo hobby e, foi a ajuda dos amigos que o permitiu juntar os primeiros livros. “Vários vizinhos começaram a me dar livros usados que não queriam mais. Aí eu comecei a fazer minha coleção”. A participação da comunidade onde mora não foi suficiente para ele. Da renda que costumava ganhar como vigilante noturno, o que sobrava depois dos gastos mensais com a família composta pela esposa Valdirene e o filho Lucas, era investido em livros que passou a comprar nos sebos da cidade.
Em março do ano passado, Seu Milton foi demitido. Desde então, optou por fazer dos livros dos quais aprendeu a gostar, base para o sustento da família. Segundo ele, chegou o momento de fazer com que outras pessoas, que como ele anteriormente, não tem o costume de ler, terem também uma oportunidade boa e barata de acesso a este hábito cada vez mais importante. Sem dinheiro para o aluguel de um ponto comercial, Silva decidiu tentar ao ar livre, deixando os livros em contato direto com os passantes que, sempre que podem, dão uma conferida no pequeno acervo.
O Negócio
Empreendimentos como os de Milton Silva não tem, na maioria das vezes qualquer registro ou permissão concedida através dos órgãos municipais ligados ao comércio ambulante. Comuns já em diferentes locais da cidade, os sebos ao ar livre, como poderiam ser chamados os locais onde são comercializados livros usados, não sofrem, segundo Seu Milton, com a ações legais de controle municipal como o “rapa”, a despeito da situação irregular à qual estão vinculados. Para o comerciante “não podem mexer em uma coisa que está fazendo um serviço pra sociedade”. Embora assim justificado, Seu Milton, por medo ou insegurança, prefere que ele e o seu "ponto" não sejam fotografados.
Juliana Oliveira , estudante de 20 anos, acha positiva a iniciativa de Seu Milton. Enquanto compra em sua mão um dos romances da série “Julia”, Oliveira explica que “nas livrarias convencionais os livros estão muito caros e, por conta disso, os sebos são essenciais”, comenta depois de receber o agradecimento do senhor negro de pouco mais 1,60m sentado sobre os degraus de uma escada por trás de uma pequena pilha de livros.
Empreendimentos como os de Milton Silva não tem, na maioria das vezes qualquer registro ou permissão concedida através dos órgãos municipais ligados ao comércio ambulante. Comuns já em diferentes locais da cidade, os sebos ao ar livre, como poderiam ser chamados os locais onde são comercializados livros usados, não sofrem, segundo Seu Milton, com a ações legais de controle municipal como o “rapa”, a despeito da situação irregular à qual estão vinculados. Para o comerciante “não podem mexer em uma coisa que está fazendo um serviço pra sociedade”. Embora assim justificado, Seu Milton, por medo ou insegurança, prefere que ele e o seu "ponto" não sejam fotografados.
Juliana Oliveira , estudante de 20 anos, acha positiva a iniciativa de Seu Milton. Enquanto compra em sua mão um dos romances da série “Julia”, Oliveira explica que “nas livrarias convencionais os livros estão muito caros e, por conta disso, os sebos são essenciais”, comenta depois de receber o agradecimento do senhor negro de pouco mais 1,60m sentado sobre os degraus de uma escada por trás de uma pequena pilha de livros.
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